3.4. MORE STUFF


3.4.1. SONATAS AND INTERLUDES VISUAL SCORES

Sonatas and interludes é o título genérico de um vasto conjunto de desenhos que se relacionam com a noção de pauta visual. Têm formatos próximos do A4 e são todos executados sobre papel de pauta musical.
Estes desenhos exploram a utilização de uma série de técnicas diversas que se desviam sempre da sua concepção tradicional - o resultado da utilização do gesto e da sua expressão.
Por outro lado, apesar de se desenvolverem a partir da tradição das pautas visuais assentam no paradoxo de serem sempre executados a partir da estrutura gráfica da anotação musical convencional, em oposição ao próprio conceito de pauta visual que quase sempre se liberta dessa mesma estrutura gráfica. Este facto permite que possa haver uma compreensão mais universal da relação existente com essa possibilidade de poderem ser interpretados do ponto de vista musical.
CoM este pressuposto e sempre sobre esse suporte, usei apenas meios de registo que estão mais próximos de processos de execução técnica - materiais e técnicas que nunca são 'meios riscadores', como por exemplo linha de coser, fita magnética, madeira, tiros de pressão de ar, máquina de escrever, queimaduras de cigarro, utilização de elementos cinéticos, entre outras formas de intervenção, de forma isolada ou combinada.
Estas intervenções, gráficas ou visuais, estáticas ou dinâmicas que aludem a possíveis sistemas de anotação musical e portanto especulam sobre a possibilidade de serem interpretáveis sob o ponto de vista sonoro permitem estabelecer uma primeira relação com a tradição da sinestesia e uma segunda com os métodos de anotação musical não convencionais utilizados por uma série de compositores do séc. XX como sejam Cage, Stockhausen, Xenakis, Ligeti, entre outros - que se afirma como o principal ponto de partida conceptual desta série de trabalhos.
Ocasionalmente é utilizada a apropriação de configurações visuais que aludem a obras de artistas, como por exemplo Mondrian, Lewitt, Judd, etc. Este facto confirma a possibilidade de leitura sinestésica destas obras apropriadas e a sua presença dilui-se no carácter abstracto e minimal que caracteriza a generalidade desta série de trabalhos sob o ponto de vista formal.
Sob outro ponto de vista, esta série de trabalhos integra-se numa premissa presente em muita da minha produção artística anterior, que resulta da combinação de referências entre as artes visuais e a música, desta vez através duma prática ainda não muito explorada no meu trabalho - a noção convencional de desenho.
Esta série de trabalhos existe na intersecção dessas duas camadas de sentido - afirmam-se como sistemas de anotação musical - contrariando a sua autonomia visual, sugerindo poderem ser apenas sistemas de escrita para serem interpretados sob o ponto de vista sonoro ou noutra condição - de desenho destinados a uma apreciação estética e visual.
É nessa condição de duplicidade que me interessa que estas peças existam e possam ser apreciadas e interpretadas.






3.4.1.2. - “SONATAS AND INTERLUDES” CONCERTOS

- EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL NA KUBIK COM CONCERTOS INTEGRADOS DE MÚSICOS CONVIDADOS DA EDITORA PORTUENSE “FAVELA DISCOS”
- IMAGENS DOS CONCERTOS DURANTE A EXPOSIÇÃO - OS MÚSICOS ESCOLHERAM E FIZERAM UMA INTERPRETAÇÃO LIVRE DAS PAUTAS VISUAIS



Sendo a série de desenhos assumidos como pautas visuais um elemento central da exposição, fazia todo o sentido convidar músicos para interpretar essas mesmas pautas. E assim aconteceu - da colaboração entre a Kubik Gallery e a Favela Discos surgiu a possibilidade de programar uma série de concertos que ocorreram durante dois dias no próprio espaço da galeria com a exposição montada a servir de cenário.
Foi uma experiência interessante que aproximou os públicos da arte com os públicos da música improvisada no próprio espaço da galeria durante o período em que a exposição esteve patente.



3.4.1.3. - “SONATAS AND INTERLUDES”
- EXCERTO DO CONCERTO DE SERNADAS




FAVELA DISCOS - SERNADAS
CONCERTO DE SERNADAS DURANTE A EXPOSIÇÃO SONATAS AND INTERLUDES NA KUBIK GALLERY
PORTO, 2017






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